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A música Romântica no Brasil
Se fossemos realizar um apanhado das m?icas gravadas no Brasil desde
1902, quando aqui come?u a ser utilizado o sistema de grava?o de
discos, at?hoje, verificar?mos que, provavelmente, 80% das m?icas
gravadas possuem uma tem?ica amorosa. Dificilmente se encontrar?algum
compositor ou int?prete que n? tenha registrado ao menos uma can?o
rom?tica ao longo da carreira.
Certamente a maior parte dos sucessos musicais no Brasil tem como tema a
quest? amorosa. Assim tem sido at?hoje. Um breve apanhado da evolu?o
dessa m?ica rom?tica no Brasil certamente muito mostrar?como evoluiu,
ou se preferirem, como evoluiu o relacionamento homem e mulher ao longo
dos pouco mais de cem anos, desde que o primeiro disco foi lan?do em
nossas terras.
Tradicionalmente considera-se que o primeiro disco gravado no Brasil foi
o lundu ?Isto ?bom?, de autoria de Xisto Bahia, lan?do pelo cantor
Baiano. A letra trazia versos do tipo ?Iai?voc?quer morrer?/Ent?
morramos juntos/Que eu quero ver como cabem/Numa cova dois defuntos?.
Prosseguindo com a repeti?o do mote ?Isso ?bom/Isto ?bom/Isto ?bom
ai que d??. A tem?ica amorosa na m?ica brasileira remonta, pelo
menos, desde o romantismo, quando muitos poetas, como foi o caso de
Castro Alves, tiveram seus poemas musicados e transformados em dolentes
modinhas. Um dos mais conhecidos poemas de Castro Alves ??O gondoleiro
do amor?, que recebeu melodia de Salvador F?regas e tornou-se uma das
mais admiradas modinhas.
Nesse modelo de m?ica rom?tica cujo g?ero b?ico foi a modinha, o
romance ?colocado num patamar sagrado e a figura da mulher ?enaltecida
como ser elevado e belo, a ser amado e cultuado. ?o que vemos, por
exemplo, em ?Malandrinha?, de autoria de Freire J?ior que, embora
gravada originalmente em 1937, guarda todos os resqu?ios mais
elementares da modinha rom?tica, ao modelo do s?ulo XIX, em versos
como:
?linda imagem de mulher que me seduz
Ah se eu pudesse tu estarias num altar
? a rainha dos meus sonhos, ? a luz
? malandrinha n? precisas trabalhar
Ao longo das d?adas de 1920 e 1930, a modinha, ent? transformada em
can?o, e mais a valsa e o Fox, este, de origem norte americana, iriam
se firmar como modelos b?icos da m?ica rom?tica. E paralelamente ao
sucesso do samba e da marcha carnavalesca em especial a partir da d?ada
de 1930, a m?ica rom?tica continuou mantendo e mesmo ampliando seus
espa?s contando com o refor? do cinema norte americano que se expandia
cada vez mais no mesmo per?do, explorando como tem?ica principal a
amorosa.
Ao longo da d?ada de 1940, prevaleceu como enfoque o que podemos chamar
de ?a lenda do amor e da mulher?, ainda muito decantada em termos
rom?ticos. Uma can?o que espelha bem esse sentimento e essa maneira de
abordagem da figura da mulher ?o samba-can?o ?A deusa da minha rua?,
composi?o de Newton Teixeira e Jorge Faraj, gravado inicialmente por
Orlando Silva em 1939, e que apresenta versos tais como:
A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar
?claro que ocorreram tamb? outras formas de cantar o amor como foi,
por exemplo, o caso do ?samba malandro? da primeira metade da d?ada de
1930, com as composi?es de Ismael Silva, Nilton Bastos, Brancura e
outros onde a mulher aparecia apanhando e gostando de apanhar, como se
v?no samba ?Malandro?, tamb? conhecido por ?Amor de malandro?, gravado
por Francisco Alves em 1929. Esse samba sempre fora reivindicado por
Ismael Silva como de sua autoria, embora aparecesse no selo do disco
como sendo de Francisco Alves e Freire Junior. Pol?icas ?parte, embora
a autoria verdadeira seja de Ismael Silva, esse samba traz versos que
contrastam abertamente com a tem?ica mais rom?tica do amor:
O amor ?o do malandro, ?meu bem!
Melhor do que ele ningu?
Se ele te bate ?porque gosta de ti
Pois bater-se em quem n? se gosta
Eu nunca vi
Deixando margens para o sadomasoquismo, esse amor malandro acabaria
sucumbindo ao longo da d?ada de 1930, juntamente com a tem?ica da
malandragem, a partir da repress? desencadeada pelo Estado Novo
implantado em 1937. Mas a m?ica seguiu seu curso e as valsas, os sambas
can?o, os fox e os fox-can?o continuaram dando o tom e disputando
espa? com os sambas e as marchas carnavalescas. Com a consolida?o de
um mercado musical no Brasil, criou-se uma segmenta?o de lan?mentos de
m?icas que fazia com que no per?do final do ano fossem lan?dos
principalmente marchas e sambas, visando o carnaval do ano seguinte, e
uma segunda leva de grava?es, lan?da ap? o carnaval, era tida como
m?icas de meio de ano e que podiam ser voltadas por exemplo para as
festas juninas mas, principalmente, para a tem?ica amorosa.
A d?ada de 1950, pode ser vista como um momento em que m?ica rom?tica
tomou definitivamente a frente na produ?o musical e passou a receber
destaque maior ainda, e isso vai ser acirrado na d?ada seguinte entre
outros fatores pela decad?cia da m?ica de carnaval.
Os anos 1950, v? assistir a consolida?o em nosso mercado musical do
bolero, g?ero rom?tico por excel?cia e que, de origem cubana e
mexicana, rapidamente se espalhou pela Am?ica latina e encontrou campo
f?til no Brasil. Fora isso, podemos verificar que fatores pol?icos, em
especial a Guerra Fria que opunha dois sistemas pol?cos e sociais
antag?icos, o Capitalismo e o Socialismo, representados respectivamente
pelos Estados Unidos e pela Uni? Sovi?ica e que, com isso, colocou o
mundo em total paran?a durante aquele per?do, o que fez com que v?ias
armas fossem usadas no combate, em especial a ideol?ica. Buscou-se
ent? a despolitiza?o permanentemente, evitando assim que novas levas
de trabalhadores pudessem ter acesso aos ideais socialistas, j?que o
sistema vigente no pa? era o oposto. Dessa forma, a cultura de massas
vai gradativamente dominando, com feitio despolitizado e favorecendo o
predom?io maior ainda da tem?ica amorosa, em especial na m?ica, caso
que aqui nos interessa.
Em nossa m?ica popular os anos 1950 ver? o fortalecimento de dois
g?eros principais de can?o rom?tica, o bolero e o samba-can?o que,
em clima de pessimismo, ganhou a alcunha de samba de fossa. Nessa fase
da m?ica rom?tica alguns nomes ganharam destaque invulgar como foram
os casos de Maysa, Dolores Duran, Carlos Alberto, Silvinho, e outros.
Dentro desses dois g?eros o amor virou quase uma desgra?,
constantemente inconcluso e desesperan?do, com casos de amor desfeito e
amores irrealizados, numa perspectiva que se manteria, at?que a Bossa
Nova e, mais adiante a Jovem Guarda, trouxessem novas perspectivas para
se cantar o amor. Na Bossa Nova, o amor j?vai ser cantado de forma mais
arejada, em especial a partir das letras de cunho existencialista do
poeta Vin?ius de Moraes que vai colocar o amor numa perspectiva de
busca da realiza?o, ultrapassando o fosso da fossa. ?o que vemos, por
exemplo, em can?es como ?Chega de saudade?:
Mas se ela voltar se ela voltar
que coisa linda que coisa louca
pois h?menos peixinhos a nadar no mar
no que os beijinhos que eu darei
na sua boca
J?com a Jovem Guarda o amor ganha o arejamento definitivo. A chamada
m?ica jovem passa a seguir a tend?cia que se espalhava pelo mundo a
partir do rock ingl? e norte americano, em especial o ingl?, com o
sucesso do grupo The Beatles. Aqui no Brasil, Roberto Carlos foi o
representante maior dessa nova abordagem, cantando o amor de uma forma
mais humorada e mais despretensiosa o que pode ser visto em can?es como
?Eu te darei o c?? ou ent? ?Quero que v?tudo pro inferno?:
Quero que voc?me aque? nesse inverno
e que tudo o mais v?pro inferno
Nesse per?do, tamb? a m?ica popular estar?travando luta ferrenha
contra a censura que, se por uma lado persegue ferozmente toda e
qualquer manifesta?o pol?ica atrav? da m?ica, tamb? n? deixar?de
cercear a m?ica rom?tica, evitando o aparecimento de letras que
pudessem, segundo a censura, atentar contra a moral e os bons costumes.
Nesse per?do que se prolonga ao longo da d?ada de 1970, o cantor e
compositor Raul Seixas vai dar forte contribui?o na formata?o de uma
nova vertente de can?o rom?tica, unindo elementos oriundos da jovem
guarda com outros de ?ocas anteriores, que passariam ent? a ser
chamados de cafonas. Ainda nessa d?ada iria surgir o que ficaria
conhecido como m?ica brega. Para muitos esse seria um subproduto da
m?ica rom?tica, mas sua penetra?o construiria o reinado definitivo
desta, uma vez que tal estilo, com as devidas modifica?es locais,
espalhou-se por todo o pa?.
Tamb? durante a d?ada de 1970, a dupla Roberto Carlos e Erasmo Carlos
colocou definitivamente o erotismo na can?o popular com can?es que
ficariam emblem?icas como ?Caf?da manh? ?Proposta?, ?Rotina?, ?Os
seus bot?s?, ?Cavalgada? e ?A primeira vez?, entre outras. Com a dupla
o amor deixava o plano do ideal e entrava no plano da realiza?o f?ica,
como se pode ver em ?Proposta?:
Eu te proponho
Te dar meu corpo
Depois do amor
O meu conforto
Ou ent? em ?Cavalgada?:
Vou cavalgar por toda a noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como a?ite
E a minha m? mais atrevida
Ainda no mesmo per?do, autores como Chico Buarque tamb? trouxeram
ousadias na forma de falar do amor que causaram furor, em especial a
partir do fim da censura. Em 1979, quando do lan?mento do LP ??era do
malandro?, chamou aten?o a can?o ?O meu amor? interpretada em disco
por Marieta Severo e Elba Ramalho. A composi?o descreve o di?ogo entre
duas mulheres que disputam o mesmo homem e cada qual vai descrevendo as
especialidades do amante:
O meu amor tem um jeito manso que ?s?seu
Que me deixa maluca, quando me ro? a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
Esses versos incendiaram a maneira de falar do amor. Os mais jovens se
sentiram felizes por fazer parte de tempos de mudan? e os mais velhos
passaram a achar que os fins dos tempos finalmente haviam chegado. Nem
tanto ao mar nem tanto a terra como diz o jarg?, pois nem os tempos
eram t? novos nem o fim estava chegando. A m?ica popular continuou em
transforma?o e no final da d?ada de 1980, o brega em termos de can?o
rom?tica passou a dominar definitivamente o mercado, primeiro com a
onda dos novos sertanejos, com duplas como Chit?zinho e Xoror? Leandro
e Leonardo, Zez?di Camargo e Luciano e outras que passaram a
privilegiar o amor, e mais ainda, o amor derramado, com constantes
men?es ao relacionamento f?ico como foi o caso do grande sucesso da
dupla Chit?zinho e Xoror??Fio de cabelo?:
Apagam-se as luzes ao chegar a hora
De ir para a cama
A gente come? a esperar por quem ama
Na impress? que ela venha se deitar
Esse, inclusive, ?at?um exemplo de menor impacto j?que muitas outras
can?es nesse sentido foram gravadas, mas o certo ?que ela apontou um
caminho que tomou for? com artistas como Reginaldo Rossi, logo coroado
de ?O Rei do Brega?. Essa face foi se transformando at?desembocar no
chamado ?breganejo?, uma mistura de brega e sertanejo com evidente
predom?io da can?o de cunho amoroso.
Mas tudo isso ainda n? seria o fim. O s?ulo XXI assistiu o
aparecimento de novas m?ias que superaram as antigas formas de
divulga?o musical e assim a m?ica popular passou a conhecer uma
explos? tal, que ?dif?il de se analisar de uma maneira mais unit?ia.
A can?o rom?tica continuou a dar as cartas em suas diferentes facetas
e tem agora, n? se sabe bem se continuando ou se contrapondo a ela, a
vis? sexual do funk que trata o amor de maneira na qual a mulher passou
a ser, talvez, o mais desprez?el dos objetos para desespero das
feministas, caso haja ainda alguma de p?
Sendo uma m?ica feita ?margem do mercado mais formalmente controlado e
sem a preocupa?o de tocar no r?io j?que pode ser ouvida em aparelhos
de MP3 e celulares sem passar pelas m?ias mais tradicionais, vai
colocando a partir da utiliza?o de palavr?s e express?s xulas o amor
como mero encontro fugaz de corpos em movimento e a mulher perde
definitivamente o antigo status de musa em cujos olhos a lua procurava
se embriagar e ?agora apenas um corpo que se mexe, remexe e deixa ?
mostra partes letais.
E assim vai a m?ica rom?tica no Brasil, embora enquadrar esse tipo de
funk no r?ulo de ?rom?tica? seja no m?imo uma temeridade. Mas fora
isso, a m?ica rom?tica continua por a?dando as cartas com ritmos mais
ou menos dan?ntes e trazendo em seu bojo as novas quest?s relativas
aos relacionamento. N? ?por acaso que um dos grandes sucesso musicais
de 2009, foi o xote ?Voc?n? vale nada mas eu gosto de voc? de
Dorgival Dantas, gravado pela banda Calcinha Preta e que, na verdade,
pouca gente notou mas faz um di?ogo com um sucesso do cantor Dem?rius
ainda na d?ada de 1960, composi?o de Roberto Carlos, que n? chegou a
grav?la: ?Eu n? presto mas eu te amo?.
Como se v?
as possibilidades de muta?o da can?o rom?tica tem sido muitas, mas
diante das cada vez mais profundas altera?es nas condi?es de
relacionamento entre homem e mulher, a pergunta que surge agora ?
haver?futuro para a can?o rom?tica, ou ser?que em breve teremos o
?timo rom?tico a vagar pelas ruas com um viol? a catar um resto
qualquer de luar entre pr?ios, polui?o e balas perdidas, a oferecer a
uma hipot?ica amada uma can?o que ningu? quer ouvir?
Por: Paulo Luna
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